Primeiro debate Trump x Biden tem ofensas e troca de acusações – @gazetadopovo
Como esperado, o primeiro debate da campanha presidencial de 2024 nos Estados Unidos foi marcado por tensão, ofensas e muita troca de acusações entre o atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, e seu antecessor e rival na eleição de novembro, o republicano Donald Trump.
O debate ocorreu na noite desta quinta-feira (27) nos estúdios da emissora CNN em Atlanta, no estado da Geórgia. Por ora, apenas outro debate está marcado, em 10 de setembro, organizado pela ABC News.
Confira abaixo os principais pontos debatidos em Atlanta por Biden e Trump, que não se cumprimentaram antes do embate verbal.
Economia, pandemia e Afeganistão
Na abertura das perguntas, Biden foi perguntado pelo âncora Jake Tapper sobre a inflação nos Estados Unidos, que em junho de 2022 atingiu um pico de 9,1% e ficou em 3,3% no mês passado.
“Precisamos ver a situação que recebemos do senhor Trump [em 2020]. A economia estava em queda livre, a pandemia [de Covid-19] foi muito mal administrada”, disse Biden. “Foi terrível. O que buscamos fazer foi arrumar as coisas, e foi exatamente o que fizemos. Mas ainda há muito a ser feito.”
Trump, por sua vez, defendeu os cortes de impostos e as desregulamentações de seu mandato (2017-2021) e lembrou que a pandemia foi responsável pela recessão do último ano do seu governo.
“Tínhamos a melhor economia da história do país e fomos atingidos pela Covid. Fizemos o que era necessário, mas entramos numa recessão”, afirmou Trump, que criticou as exigências de vacinação na administração pública e em empresas impostas por Biden.
“Ele só criou empregos para imigrantes ilegais e de recuperação [da economia] após a Covid-19”, acusou, citando que Biden aumentou a dívida pública dos Estados Unidos.
Tapper citou num comentário a desastrosa retirada americana do Afeganistão em 2021 – a saída dos Estados Unidos já vinha sendo planejada desde a gestão Trump.
“Eu estava planejando uma saída honrosa, a forma como saímos [no governo Biden] foi o dia mais constrangedor da vida do nosso país”, disparou o republicano.
Aborto
Biden e Trump foram perguntados sobre a decisão da Suprema Corte americana que derrubou em 2022 a jurisprudência do caso Roe vs. Wade, de 1973, que havia determinado que os estados americanos não poderiam ter leis vetando o aborto antes da chamada viabilidade (quando o feto tem condições de sobreviver fora do útero, por volta de 24 semanas de gestação).
A decisão do ano retrasado do Supremo americano devolveu aos estados americanos a liberdade de legislar como preferissem sobre o aborto. Dessa forma, muitos estados governados pelos republicanos reativaram ou implementaram leis pró-vida mais rígidas.
“Há 51 anos, tivemos Roe vs. Wade, e todo mundo, democratas, republicanos, conservadores, liberais, queria que a questão fosse retornada aos estados. O que eu fiz foi indicar três juízes que votaram para derrubar Roe vs. Wade. Cada estado está tomando sua decisão, é a vontade do povo”, disse Trump.
O republicano afirmou que, pessoalmente, é a favor de exceções em casos de estupro, incesto e para salvar a vida da mãe e acusou os democratas de ter uma postura “radical” ao defender o aborto em fases avançadas da gestação.
Biden, por sua vez, disse que com seis semanas de gravidez, prazo máximo que alguns estados republicanos admitem para a realização de abortos, “a maioria das mulheres não sabe que está grávida”.
“Foi um erro devolver a questão para os estados, a cada hora eles têm uma regra nova”, acusou.
Quando Biden mencionou mulheres que morrem em decorrência de abortos ilegais, Trump disse que mais mulheres morrem vítimas dos imigrantes que o democrata “está deixando entrar” nos Estados Unidos.
Imigração ilegal
Em resposta a uma das principais críticas dos republicanos à gestão Biden, o democrata alegou que aumentou o patrulhamento na fronteira e que a situação está melhor do que na era Trump.
“Ele [Trump] separou bebês das suas mães, colocou pessoas em jaulas, esse não é o caminho a seguir”, criticou. Ao final da resposta, Biden balbuciou, e Trump ironizou: disse que não entendeu o que seu oponente havia falado, “acho que nem ele entendeu”.
“Tínhamos a fronteira mais segura da história, ele só precisava ter dado continuidade. Estamos recebendo pessoas de instituições de saúde mental, terroristas, não só da América do Sul, do Oriente Médio também”, argumentou.
Biden respondeu que Trump não tinha estatísticas para provar suas afirmações e que o republicano estava mentindo.
Os dois candidatos também falaram sobre veteranos de guerra, e Biden lembrou de uma reportagem da revista Atlantic de 2020 que alegou que Trump teria chamado soldados mortos em combate de “otários” e “perdedores”. “Você é o otário, você é o perdedor”, disse Biden, olhando para o republicano.
Trump disse que a declaração foi “inventada” pela revista e que Biden lhe devia desculpas; o democrata se recusou a se desculpar.
Guerra na Ucrânia e em Gaza
Na parte do debate em que falaram sobre os conflitos no leste europeu e no Oriente Médio, Trump voltou a criticar Biden sobre a retirada do Afeganistão.
“Nenhum general foi demitido pelo Afeganistão, quando bilhões em equipamentos e pessoas também, cidadãos americanos, foram deixados para trás”, disse o republicano, que afirmou que a Rússia não teria invadido a Ucrânia e o Hamas não teria atacado Israel se ele fosse presidente dos Estados Unidos.
“O mundo inteiro está explodindo por causa dele [Biden]”, disse. Biden acusou Trump de encorajar o ditador Vladimir Putin a invadir a Ucrânia ao dizer “que ele poderia fazer o que quisesse”.
Trump negou e disse que os termos exigidos por Putin para a paz (mais território ucraniano além do ocupado e que Kiev desista de aderir à OTAN) não são aceitáveis. Também afirmou que o dinheiro da ajuda à Ucrânia deveria ser usado dentro dos Estados Unidos e que conseguirá um acordo para pôr fim à guerra antes de tomar posse caso seja eleito.
Sobre o conflito no Oriente Médio, Biden defendeu seu plano de três fases para um cessar-fogo e, quando seu adversário retomou o tema Ucrânia, o democrata acusou Trump de ameaçar retirar os Estados Unidos da OTAN.
Invasão ao Capitólio e problemas judiciais
Perguntado por Tapper sobre a invasão de seus apoiadores ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, Trump disse que naquela data os Estados Unidos tinham “uma grande fronteira, tínhamos independência energética, os menores impostos, as menores regulações, éramos respeitados no mundo inteiro”.
“O que aconteceu com a reputação dos EUA no governo desse homem [Biden] foi terrível”, disse Trump. Quando o âncora retomou o assunto, o republicano afirmou que a então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, recusou uma oferta de enviar a Guarda Nacional ao Capitólio.
Biden acusou Trump de responsabilidade pelo ataque e disse que ele planeja reduzir as penas de condenados pela invasão. “Não há perdão para o que eles fizeram, e ele quer comutar as penas deles”, afirmou o presidente.
Sobre as recentes condenações criminais de Trump e do filho de Biden, Hunter Biden, o republicano afirmou que as acusações contra ele foram “armadas” pelo Departamento de Justiça da gestão do democrata, que Hunter é um “criminoso condenado” e que o próprio Biden poderá ser processado quando deixar a presidência.
“Ele pode ser um criminoso condenado assim que deixar o cargo. Joe poderia ser um criminoso condenado por todas as coisas que fez. Ele fez coisas horríveis”, disparou. Pouco depois, afirmou que “Biden é o pior presidente da história” dos Estados Unidos.
Eleitorado negro, seguridade social e crise dos opioides
Na volta do intervalo, a outra mediadora do debate, a âncora Dana Bash, perguntou sobre as condições de vida da população negra.
O democrata afirmou que, embora ainda haja muito a ser feito, mais pequenos negócios foram abertos por empreendedores negros durante sua gestão, que o desemprego nessa fatia da população está menor e que seu programa de perdão de dívidas de estudantes universitários beneficiou muitos jovens negros.
Trump respondeu que a inflação durante a gestão Biden atingiu duramente os negros e que os imigrantes ilegais estão roubando empregos dessa população.
“Ele só tinha que continuar o que estava sendo feito, mas estragou tudo com seus grandes planos e jogando dinheiro pela janela”, afirmou o republicano.
Biden respondeu: “Não havia inflação quando me tornei presidente. Você sabe por quê? A economia estava arrasada, 15% de desemprego, ele dizimou a economia, dizimou totalmente a economia. É por isso que não havia inflação na época. Não havia empregos”.
O democrata acusou Trump de querer cortar recursos da seguridade social e defendeu aumento de impostos para os mais ricos para custeá-la; o republicano disse que nunca viu “ninguém mentir tanto quanto esse cara” e afirmou que a seguridade social está em crise porque benefícios estão sendo direcionados para imigrantes ilegais.
Quando Tapper perguntou sobre a crise dos opioides nos Estados Unidos, Trump voltou a mencionar a crise migratória e a culpar Biden por ela. “O número de drogas vindo pelas nossas fronteiras é o maior da história”, disse o magnata.
Biden rebateu, alegando que os republicanos se opuseram à aprovação de recursos para a compra de máquinas para detectar o transporte de drogas na fronteira com o México porque isso “os prejudicaria politicamente”, já que ajudaria a gestão democrata.
Condições de presidir o país e guerra mundial
Dana Bash perguntou sobre as condições de Biden (81 anos de idade) e de Trump (78 anos) de comandar o país mais importante do mundo.
“Fiz dois testes [de saúde], ele não fez nenhum. Gostaria de vê-lo fazer ao menos um, um fácil”, ironizou Trump, que disse que jogava golfe e ainda conseguia acertar grandes tacadas. Biden respondeu também com ironia: “Esse cara é três anos mais novo que eu e muito menos competente”.
Trump alegou que não seria candidato na eleição deste ano se Biden fosse “um grande presidente” e disse que o democrata levará o planeta à Terceira Guerra Mundial se for reeleito.
“Deixe Putin entrar em Kiev, depois veja o que acontece na Polônia, na Hungria, aí você terá uma guerra [mundial]”, respondeu Biden, que chamou Trump de “chorão” por não ter admitido sua derrota eleitoral em 2020.
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