Com Bullrich e Caputo, Macri fortalece sua influência dentro do governo de Milei – @gazetadopovo
Na quinta-feira (23), o
gabinete de transição do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, definiu mais
dois nomes que irão ocupar as lideranças de pastas importantes dentro do novo
governo, que se inicia a partir do dia 10 de dezembro, quando o libertário substituirá
o peronista Alberto Fernández no comando da Casa Rosada.
Segundo informações da imprensa argentina, Luis Caputo e Patricia Bullrich ocuparão respectivamente as pastas da Economia e Segurança dentro do novo governo argentino. Além deles, Demián Reidel chegou a ser convidado para assumir o posto de presidente do Banco Central, que deve ser fechado, conforme foi dito e ratificado por Milei após vencer as eleições do dia 19 de novembro, mas, segundo informações do jornal argentino La Nacion, ele teria recusado o convite por discordâncias com a equipe econômica do novo presidente.
Tanto Caputo quanto Bullrich e Reidel tem em comum o fato de já terem ocupado cargos semelhantes no governo do ex-presidente da Argentina Mauricio Macri (2015-2019). Caputo, que é economista e apelidado de “Messi das finanças”, foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central durante a gestão do ex-presidente argentino. Bullrich, por sua vez, esteve à frente também da pasta da Segurança quando Macri era presidente do país sul-americano. Já Reidel, um físico, economista e pesquisador da Universidade de Harvard, foi segundo vice-presidente do Banco Central argentino durante a gestão de Macri.
As escolhas pelos nomes de Bullrich e Caputo para chefiar pastas centrais no futuro governo libertário, bem como a ideia de trazer Reidel, destacam a influência que Mauricio Macri está tendo dentro do gabinete de Javier Milei nesse período de transição. Essa influência não começou apenas após a vitória arrasadora do economista no dia 19 de novembro, ela vem se desenvolvendo desde a confirmação do segundo turno das eleições presidenciais disputada entre o libertário e o então candidato do peronismo, Sergio Massa.
Foi Macri quem costurou o
acordo que selou o apoio de Patricia Bullrich, que havia ficado em terceiro
lugar nas eleições de primeiro turno realizadas em 22 de outubro, a Milei neste
segundo turno. Além disso, o ex-presidente também tem usado sua influência e
força dentro da coalizão Juntos pela Mudança para tentar garantir um apoio
sólido ao libertário no polarizado e dividido Congresso argentino, onde suas
propostas mais “radicais”, como a dolarização e o fechamento do Banco Central,
devem encontrar uma certa resistência, principalmente por parte da coalizão
peronista, que conseguiu obter uma quantidade significativa de deputados e
senadores.
As escolhas do novo
presidente, que abriram espaços para nomes da antiga gestão de Macri, chegaram
a provocar uma pequena ruptura dentro de sua equipe. Carlos Rodríguez, que era
um dos principais assessores econômicos do agora novo presidente argentino
durante a campanha presidencial, deixou o governo de transição ainda na semana
passada após se sentir “abandonado”, segundo informações da mídia local.
No entanto, as saídas e
eventuais rompimentos não parecem abalar Milei, que segue negociando, viajando
e montando seu quadro de ministros que terá a difícil missão de conduzir e
reconstruir uma Argentina imersa no caos econômico e social após quatro anos sendo
liderada pelo desastroso governo de Fernández e Cristina Kirchner.
Para Christopher Mendonça, doutor em Ciência Política e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Minas Gerais, Macri tem “interesses políticos legítimos” no próximo governo e “até aqui positivos”. Em entrevista à Gazeta do Povo, o professor disse que enxerga a aproximação do ex-presidente com o gabinete de Milei como uma tentativa dele de ajudar o novo presidente argentino a “garantir a governabilidade” e “moderar suas propostas ‘mais radicais’”.
Mendonça afirma que a escolha por nomes do antigo governo Macri no novo governo de Milei também é uma “mostra de que o libertário está querendo garantir essa governabilidade” por meio do apoio da coalizão Juntos pela Mudança no Congresso argentino. Ele diz que Milei “sabe que tem limitações numéricas no Congresso e que não conseguiria desenvolver seus projetos sem a cooperação com outras frentes”.
“Adicionar a centro-direita macrista no governo é uma alternativa essencial para a governabilidade. […] Certamente é uma estratégia racional [a aproximação de Milei com Macri] e que pode ser bem sucedida”, disse ele.
O professor destacou que a influência e a participação de Macri no próximo governo ficam “fortalecidas” com a chegada de Bullrich e Caputo em duas pastas importantes como as da Segurança e Economia. No entanto, ele afirmou que os “demais espaços” dentro do governo, que se inicia no dia 10 de dezembro, “podem e devem ser ocupados por correligionários de Milei”, em vez de outras pessoas que integram o Juntos pela Mudança.
Mendonça observou também que
Macri “pode sim” ter uma influência nas próximas decisões políticas de Milei,
pois “além de ser o mais experiente do ponto de vista político”, o
ex-presidente representa um “grupo quantitativamente maior” e, portanto, “não é
um apoio a ser deixado de lado”.
“Macri quer ser relevante
na tomada de decisão, ter influência na Casa Rosada”, observou o professor.
Mendonça considera que essa influência de Macri não deve prejudicar a imagem do governo de Javier Milei perante seus apoiadores e eleitores, mesmo com o libertário tendo condenado as “castas” políticas que já lideraram o país sul-americano durante os últimos anos em seus discursos de campanha. Ele argumenta que os apoiadores de Milei “sabem que a possibilidade de um governo isolado neste momento são remotas e que, para combater o peronismo, é essencial unificar as forças de oposição ao atual governo, que perdeu as eleições”.
“Não considero que a
maioria dos eleitores de Milei tenham restrições em aceitar a interlocução com
o grupo macrista”, afirma.
Mendonça destacou ainda que Javier Milei apresentou uma ligeira alteração em sua postura, especialmente ao abordar suas propostas de reestruturação econômica, as quais se espera que sejam implementadas a partir do dia 10 de dezembro. O professor atribui essa mudança na postura do presidente eleito à influência perceptível de Macri e Bullrich durante esse período de transição, ressaltando que ambos possuem um “entendimento profundo” da máquina pública argentina e suas limitações.
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