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Suassuna: 10 anos sem o poeta que fez da cultura popular arte e luta – @agenciabrasil


Taperoá, na Paraíba. Você pode não saber onde fica, mas com certeza já ouviu falar.

Dez anos após a morte de Ariano Suassuna, o escritor está onde sempre quis e gostou de estar: na memória popular.

Nas trapalhadas de Chicó e João Grilo; na saga histórica, política e filosófica do Romance da Pedra do Reino; ou mesmo nas famosas “Aulas-Espetáculo”, fáceis de encontrar na internet.

E mesmo que você não se lembre de tudo isso, pode reconhecer ao fundo a trilha sonora do projeto coletivo que buscou uma arte autêntica brasileira, baseada nas raízes populares do Movimento Armorial, que Suassuna também fundou nos anos 1970.

Ariano foi publicado em vários idiomas e fez parte da Academia Brasileira de Letras (ABL). Na hora da posse, o escritor Joaquim Falcão, também membro da ABL, lembra que Suassuna dispensou o fardão tradicional e estava de alpercatas.

Não dá para resumir a personalidade, nem o tamanho da obra do escritor, que nasceu dentro da sede do governo de uma distante cidade da Paraíba, então capital do estado, em 1927. Ariano passou a viver a juventude em sua pequena Taperoá, após perder o pai, assassinado por razões políticas. Esse fato fez  com que ele nunca caísse em críticas generalizantes sobre o tema, como  conta Joaquim Falcão, membro da Academia Brasileira de Letras.

“Ele sempre dizia o seguinte: ele tem pena dessa generalização que o Brasil faz por profissão. Isso o Ariano era absolutamente contra. E ele tinha pena dessa generalização, porque essa generalização não reflete o Brasil”.

Para os palcos, ‘O Auto da Compadecida’, ‘Uma Mulher Vestida de Sol’, ‘A Farsa da Boa Preguiça’ talvez sejam as peças mais famosas. Suassuna tinha carinho pelo que criava e gostava de ver sua obra ganhando adaptações para o cinema e para a televisão. Chegou a participar ativamente dos bastidores de algumas delas.

Joaquim Falcão resume a brasilidade de Ariano, lembrando uma crítica à Disney World contada com bom humor pelo próprio Suassuna.

“O que se precisava de Ariano hoje é isso que você está fazendo. É que o Brasil descubra o Brasil. O Brasil não é Disneylândia. O Brasil é Taperoá”.

Neste 23 de julho, quem estiver no pequeno município no Sertão da Paraíba, tem o privilégio de participar de uma exposição itinerante, pelos espaços imortalizados na obra do escritor. Ela passa pela Casa Museu, repleta de xilogravuras, e segue em cortejo com músicos e artistas que levam adiante o Movimento Armorial. Também tem debate na Câmara Municipal de Taperoá sobre o realismo fantástico de Suassuna. No fim da tarde, o Concerto Armorial e o grupo Teatro Oficina se apresentam. Um dia de espetáculos como tantos outros que Suassuna levou para o povo.

Um dia de espetáculos, como tantos outros que Suassuna levou para o povo:

“Um espetáculo numa cidade chamada Belém de São Francisco, lá no Alto Sertão, na praça pública. E quando terminou, eu ouvi um dos maiores elogios que eu já ouvi na minha vida, uma velhinha, do povo:

‘ nunca pensei, morrer, antes de morrer, eu ver um espetáculo bonito como esse’.

Aquilo me pagou de tudo quanto foi de canseira que eu vinha tendo. Ver uma coisa dessa… Quer dizer, eu sei que eu levei pra ela uma alegria do tamanho daquelas que eu tinha quando eu via o circo quando eu era menino. E levando uma arte e qualidade que o nosso povo merece. 



Acesse esta notícia no site da Agencia Brasil – Link Original

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