Rara coleção de joias brasileiras é tema de mostra em Salvador – @agenciabrasil
Uma rara coleção de joias brasileiras conhecidas como joias de crioula é o tema de uma mostra especial em Salvador. Quem visitar a exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras, no Museu de Arte Contemporânea da Bahia, vai se surpreender com as histórias afro-brasileiras de resistência por traz da beleza de mais de 100 joias de crioula. São colares, anéis, pulseiras, brincos de ouro e prata que eram usados por mulheres negras – fossem elas escravizadas, libertas ou livres – na Salvador do século 19.
A exposição parte da fotografia de Florinda Anna do Nascimento, conhecida como dona Fulô. O vasto acervo de adornos e pedras preciosas dessa baiana, nascida no Recôncavo e que morreu em Salvador em 1931, aos 103 anos, é a grande inspiração da mostra.
Por trás das joias de crioula, estão as histórias dessas mulheres negras que compraram sua liberdade com o trabalho de ganhadeiras, lavando roupas, vendendo quitutes, peixes e tecidos nas ruas de Salvador no século 19. Mulheres pretas empreendedoras no Brasil que encomendavam joias minuciosamente esculpidas por ourives que também faziam parte da comunidade negra soteropolitana.
Especialista em moda afro-brasileira, a design Jaque David visitou a exposição e ficou encantada com os caminhos de sabedoria, resistência e fé nas histórias ancestrais das joias de crioula.
“Tem uma exuberância, a gente tem uma extravagância, a gente tem autenticidade. E as joias de crioula são exatamente isso, trazem isso muito para marcar a identidade daquelas mulheres, né, que eram negras de ganho e que vão crescendo, que vão ampliando, inclusive, seu patrimônio com as joias, né? Então, os ourives faziam exclusivamente para elas, e elas foram criando esse babado tanto… e elas ficaram tão incríveis e tão maravilhosas”, exaltou a design.
Herdadas por linhagem familiar, as joias de crioula estão presentes até hoje na Irmandade da Boa Morte. Elas são usadas por integrantes da irmandade como símbolo de resistência e identidade cultural em procissões e festas, como a Festa da Boa Morte, em Cachoeira, na Bahia.
A exposição Dona Fulô e Outras Joias Negras também traz a herança da cultura afrodiaspórica nas obras de artistas negros contemporâneos, além de documentos que dialogam com as joias de crioula.
A mostra, no Museu de Arte Contemporânea, é gratuita e fica em cartaz em Salvador até 16 de fevereiro.
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