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Ceramistas ancestrais carregam saberes e mistérios nas mãos – @agenciabrasil


A cantoria bonita com gargalhada solta que a gente acaba de ouvir tem quase 104 anos de vida. É a voz de dona Cadu, a ceramista mais antiga em atividade do Brasil. O barro que dona Cadu amassa, desde os dez anos, vem do chão da Bahia, do povoado Coqueiros, na beira do rio Paraguaçu, município de Maragogipe, bem ali no coração do Recôncavo.

Para fazer as panelas e cumbucas de cerâmica na sua casa colorida de dois degraus e uma janela de frente, dona Cadu bota muito saber e mistérios nas suas mãos. Amassando o barro, queimando pote e esfregando pedra para moldar a cerâmica, Ricardina Pereira da Silva – seu nome de batismo – conversa com o tempo, entende da terra e compreende dos ventos também.

Ceramista, rezadeira e sambadera das boas, dona Cadu faz do seu ofício caminho de vida, afinada com a natureza do seu lugar no mundo. Faz também questão de passar os segredos do barro de mãos em mãos, para quem vem depois: sua neta Luana da Silva já acompanha a avó há mais de uma década e confirma que vovó Cadu é mesmo incansável.

Foi com a mesma idade de vovó Cadu, aos dez anos, vendo avós e tias, que a ceramista Marciana Donata começou a aprender os segredos da cerâmica amazônica.

“Minhas tias todas faziam artesanato e eu aprendi com elas. Fazia pecinhas pequenas. Eu tava com dez anos, roubava o barrinho delas e fazia escondido”, conta.

Dona Marciana, como é conhecida, é do Quilombo Santa Luzia do Maruanum, em Macapá.

Parteira e rezadeira, a louceira faz nascer das suas mãos crianças, peças bonitas de cerâmica e dança que se estende para o corpo inteiro. Ela é mestra na Dança do Marabaixo, a maior manifestação cultural do Amapá, trazida da África e reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN desde 2018.

Todo ano, a tradição deste saber ancestral se repete, ligada à terra e à fé deste povo quilombola. Com mais de setenta anos, mestra Marciana agora passa a tradição da cerâmica e dos cantos e danças do Marabaixo para netas e sobrinhas do Maruanum, como Josilana Costa.

“Eu sou o que sou porque sou daqui. Meu umbigo tá aqui, eu nasci aqui pelas mãos da minha avó, tudo que eu sou, eu devo a esse lugar”, afirma Josilana.

Desde as primeiras louças de barro encontradas nas comunidades indígenas da ilha do Marajó, no Pará, até as que permanecem sendo feitas pelas mãos de vovó Cadu e dona Marciana, a cerâmica brasileira segue sendo honrada e celebrada – de geração em geração, de território em território – pelas mulheres artistas brasileiras de sabedoria ancestral.



Acesse esta notícia no site da Agencia Brasil – Link Original

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